Reprodução: Olhar Crônico Esportivo, globoesporte.com
Premier League
La Liga
Lega Calcio
Ligue 1
Confederação Brasileira de Futebol
Bundesliga
Liga Portuguesa
Major League Soccer
Estes são alguns dos mais importantes países no mundo do
futebol profissional e as entidades responsáveis pela principal competição de
cada um deles. Não estranhem as inclusões de Portugal e USA; o primeiro está
nessa lista por conta de nossas origens e afinidades; o segundo, porque a médio
prazo estará no rol dos mais importantes. A única coisa a estranhar nessa lista
é a presença da entidade responsável pela organização do principal torneio do
Brasil, que está nessa lista porque o Campeonato Brasileiro é importante e é,
também, um dos torneios com maior receita de televisão no planeta.
Todos esses países, exceção feita justamente ao Brasil, têm
ligas que cuidam do futebol profissional.
Todos, menos o Brasil.
Desnecessário dizer, também, que, os mais importantes clubes
do mundo são filiados a essas ligas (os americanos ainda chegarão lá).
Como os maiores global players: Barcelona, Manchester,
Madrid, Bayern. Como as mais famosas e badaladas global brands: além dos quatro
clubes já citados, podemos incluir, ainda, Arsenal, Liverpool, Chelsea, Milan,
Internazionale, Lyon, Juventus, Porto… Ah, sim, a lista das global brands inclui,
também, Boca e River e não, não inclui nenhum clube brasileiro.
Nenhum, sem exceção.
Repetindo: em todos esses países, o futebol profissional é
organizado e controlado por ligas e não por federações. Somos a exceção a essa
regra.
Aqui a federação (chamada de confederação) controla e
organiza tudo a seu gosto e modo. Aqui, os clubes vão a reboque da federação
(como também vão a reboque das federações estaduais), embora sejam a razão de
ser do futebol, sejam responsáveis por nossa história, por nossos grandes
jogadores, tenham a torcida de muito mais de uma centena de milhões de
brasileiros.
Apesar de tudo isso e muito mais, na hora do “vamos ver”
nossos clubes nada apitam e tudo aceitam, tudo engolem, quer gostem, quer não
gostem.
Alguns deles, e o Santos é o melhor exemplo, já foram global
brands num tempo em que internet era algo inexistente até como ideia.
Desde meados dos anos noventa, entretanto, nossos grandes
clubes começaram a deixar de ser conhecidos, começaram a deixar de ser
lembrados pela grande massa torcedora e, não há como fugir disso, consumidora.
Hoje, o único time brasileiro conhecido fora de nossas
fronteiras e dos limites da America do Sul, é o time da Confederação, a Seleção
Brasileira.
No Brasil, no decorrer de nossos cinco séculos de vida, os
detentores do poder sempre trabalharam no sentido de mantê-lo a salvo das
pressões da sociedade. Se isso era escancarado durante a era colonial, ficou
mais sutil e disfarçado no Império. A República aprofundou a sutileza,
aprofundou a farsa democrática, que recebeu um toque todo especial de Golbery e
Geisel durante o regime militar, ao criarem o Pacote de Abril, “cândida e
ingenuamente” incorporado à nossa realidade política. Os verdadeiros agentes da
história sempre foram mantidos à margem da mesma e à margem do poder.
Não é diferente no futebol. Os clubes brasileiros são
tutelados, arrebanhados, controlados por entidades cujos dirigentes, em sua
esmagadora maioria, mal e mal sabem o que é uma bola de futebol. Ou, sendo bonzinho,
até sabem, mas com ela nunca tiveram intimidade maior que a de um chute
simbólico, com o bico de fino sapato de não menos fino cromo alemão (cromo
alemão ainda é o que há em matéria de sapatos?). É muito mais fácil
encontrarmos pontos divergentes entre os interesses dos clubes e os interesses
das federações (nacional e estaduais) do que pontos convergentes.
Democrática e ilusoriamente, os clubes têm direito a voto
nas eleições dos dirigentes dessas entidades. Seus votos, porém, nunca são
suficientes para eleger o presidente, graças a bem elaboradas obras e esquemas
de engenharia política. São famosas as histórias de ligas com direito a voto em
federações, ligas que nunca existiram, exceto no papel, e quando existiram
representavam interesse zero. Melhor dizendo, o conjunto de interesses
atendidos por elas só não era vazio ou unitário porque atendiam, e devem
continuar atendendo, aos interesses de seus responsáveis e aos interesses dos
dirigentes das federações.
Os grandes agentes do futebol brasileiro, hoje e sempre, são
os torcedores, os clubes e os jogadores. Nenhum deles tem poder para interferir
na realidade de nosso esporte predileto. Não temos nenhum Platini, nenhum
Beckenbauer entre os dirigentes de nosso futebol. A rigor, sequer temos entre
os dirigentes das federações algum grande ex-dirigente de clube. Pode-se dizer
que são mundos à partes e estanques. Com interesses distintos.
Ah, essa é a pior parte: interesses distintos. Em sã
consciência, é impossível dizermos que os interesses dessas partes sejam
coincidentes. Um dos melhores e mais transparentes exemplos do que falo foi a
afirmação de Carlos Alberto Parreira (a quem respeito muito como bom
profissional) em 2005, dizendo que Robinho deveria transferir-se sim para o
Real Madrid para ter mais e maiores chances na Seleção Brasileira. Não culpo
Parreira por isso, pelo contrário, elogio sua honestidade, que expôs de maneira
nua e crua o absoluto desdém da Confederação pelo clube.
O ano de 2010 viu pipocar aqui e ali algumas palavras sobre a
criação de uma liga de clubes. Curiosamente, mas não estranhamente para quem
conhece os meandros da política e da política no futebol, quando surgiu o nome
de Kleber Leite como candidato à presidência do Clube dos 13, surgiu, também, a
doce informação que sua vitória pavimentaria o caminho para a criação da liga,
o que deixaria a Confederação livre para dedicar-se somente à Seleção e, agora,
à Copa 2014, isso, é claro, partindo do pressuposto enganoso que tal já não
ocorre há muito tempo. Muita gente ficou cativada por tal ideia, que foi
desmentida, é claro. Porém, como diz o povo, onde há fumaça…
Criar uma liga dessa forma seria extremamente interessante…
Para o presidente da Confederação, que, dessa forma, manteria o poder intacto e
total sobre nosso futebol, mascarado por uma liga, mascarado por uma farsa de
democracia e representação legítima.
Na vida real não é assim.
Poder não é transferido, não é dado.
Poder é conquistado ou não é poder.
Uma ligeira vista d’olhos em nossa história mostra isso em
inúmeros exemplos, desde a chegada das primeiras caravelas portuguesas.
Um novo ano começa.
Embora artificial, pois hoje é igual ontem que foi igual ao
que será amanhã, essa divisão que atende ao nosso gosto por organizar a vida e
a natureza pode ser um bom motivo para iniciarmos um debate em torno da criação
da Liga Brasileira de Futebol ou qualquer outro nome que venha a ter. Essa é a
intenção singela, pequena, modesta, desse primeiro post de 2011 deste Olhar
Crônico Esportivo.
Já está mais que na hora de nosso futebol profissional
declarar sua independência, exercer sua maioridade e entrar na modernidade do
futebol mundial.
Pelo bem dos clubes e dos torcedores, pelo bem do futebol
brasileiro.
2 comentários:
Bomba! Dossiê pode dar uma Libertadores ao Corinthians a qualquer momento!
http://lh3.ggpht.com/_nG4PvdKMgX4/TQrjflEmKEI/AAAAAAAAAKw/2bWqOo2CozA/s1600/corinthianslibertadiresplays.PNG
Com a eventual queda do supremo corrupto, rei do nosso futebol, a criação dessa liga provavelmente será eminente, uma vez que as galinhas, os principais e únicos grandes opositores, também perderão todo seu poder sem a ajuda do poderoso e sinistro aliado.
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