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Marilia Neustein
Aos 18 anos, Lucas do São Paulo fala sobre propostas e sua
trajetória
Na mesma semana em que recebeu uma proposta de 25 milhões de
euros da Inter de Milão, Lucas aceitou conversar com a coluna no centro de
treinamento do São Paulo. Considerado um dos atletas mais valiosos do futebol
brasileiro, o jovem craque procura manter os pés no chão. Ou melhor, no
Tricolor. “Sonho em jogar em um grande clube da Europa, mas sou muito novo
ainda. Quero ficar aqui. Sou feliz no São Paulo”, afirma. Não é para menos. Seu
contrato com o clube – que vai até 2015– tem uma multa rescisória de cerca de
R$180 milhões.
Nova promessa da Seleção Brasileira, ao lado de Neymar e
Ganso, o meia-atacante mostra que tem personalidade forte. “A última palavra é
sempre minha”, diz, sobre as decisões profissionais. “Confio no meu talento.
Antes de ir para a Europa quero dar alegria aos torcedores e à diretoria que
apostou em mim”, enfatiza.
As ações maduras do jovem não se restringem ao futebol. Se o
universo que cerca alguns jogadores é composto de mulheres, carrões e badalações,
Lucas parece ser uma exceção a regra. Com apenas 18 anos, o jogador esboça um
respiro nas extravagancias cometidas frequentemente por jovens craques
brasileiros. “Sou um cara tranquilo”, diz. “Minha rotina é vir para o clube,
jantar com a minha família e ás vezes sair com amigos. Ir ao shopping ou a uma
churrascaria”.
A fama de bom-moço não passa despercebida aos olhos dos
colegas de time. Rogério Ceni, considerado “um exemplo” para Lucas, foi um dos
primeiros a chamar a atenção para a modéstia do novo ídolo tricolor, que se
autodefine como “muito tímido” e nada “gastão”. “Não tenho essa fissura por
carros. Até curto, mas não cometo a loucura de gastar tanto dinheiro em um
carro”. Nenhum sonho de consumo? “Ah… uma casa, em condomínio fechado com quadra
de futsal, que é uma das minhas paixões”.
As movimentações financeiras de Lucas são feitas pelo pai,
Jorge. É ele quem administra todo dinheiro do filho. “Eu só ganho uma mesada
para comprar uma roupa, um tênis, só. O resto meu pai investe”, relata o jogador
– vestindo uma camiseta Armani – e que, entre um clique e outro, pede ao
fotógrafo da coluna para enviar as imagens para seu e-mail.
Não é só na ostentação que Lucas se difere do que se diz de
alguns futebolistas. O jogador também é avesso a noitadas, bebidas e odeia o
cheiro de cigarro. “Sou uma pessoa do dia”, diz.
A carreira de Lucas, como de todo craque, começou cedo. Na
Zona Sul de SP, desde menino, optou por morar nos centros de treinamento, longe
da família. Agora, com a idade que poderia ganhar sua independência, quer mais
é ficar perto dos pais: “não existe melhor comida do que a da minha mãe”, fala,
rindo. Leia trechos da conversa.
Seu contrato com o São Paulo vai até 2015. Não tem planos de
ir para Europa antes?
Quero ficar aqui. Sou muito feliz no São Paulo. É o clube
que me projetou no futebol, que apostou no meu talento. E gosto do meu país.
Sou muito novo ainda. Quero continuar muito tempo aqui perto dos meus amigos e
da minha família.
Mas a Inter de Milão fez uma proposta recentemente…
Fui pego de surpresa. Vi pela internet. Eu fiquei feliz, né?
É legal que grandes clubes tenham interesse pelo meu futebol. Mostra que estou
fazendo meu trabalho direito. Claro, todo jogador sonha em jogar em um grande
clube da Europa. Eu também, mas não agora, só mais para frente.
Existe algum clube que está no objetivo da sua carreira?
Sonho em jogar em um grande clube europeu. Hoje todo mundo
fala no Barcelona. Seria um sonho jogar lá. Mas existem outros como o Real
Madrid, Inter de Milão, Milan… Mas antes de ir para Europa quero dar alegria
aos torcedores e a diretoria que apostou em mim.
Suas decisões profissionais você toma sozinho ou tem
orientação do seu empresário e da sua família?
Meus pais me ajudam, mas a palavra final é sempre minha. O
empresário está ali só para dar um apoio, ajudar em algo, negociar uma
renovação de contrato. No fim sou eu quem decide.
E o seu dinheiro você mesmo que administra?
Meu pai cuida de tudo. Eu só fico com uma mesada para gastar
no shopping, comprar uma roupa, um tênis (risos)… Eu não sou muito gastão, não.
Sou bem tranquilo. Meu pai aplica tudo.
Não tem nenhum sonho de consumo: casa, moto, carrão?
Ah… meu sonho é uma casa em condomínio fechado com uma
quadra de futsal, que é uma das minhas paixões. Não tenho essa fissura por
carro. Eu até curto, mas não cometo a loucura de gastar tanto dinheiro em um
carro. Prefiro gastar em bens que me darão retorno depois.
Você é religioso?
Sou católico. Tenho muita fé. Rezo todos os dias e agradeço.
E como lida com o assédio feminino? Existem muitas “Marias
Chuteiras” no seu pé?
Ás vezes tem, né (risos)? Aparece algumas são-paulinas roxas
(risos). É complicado falar que tem maria chuteira, mas também não posso negar.
Pessoas que antigamente não me davam bola e que agora correm atrás. Mas tem que
saber lidar com isso. Estou solteiro faz pouco tempo. Tive dois namoros. Um
durou três anos e esse último, dois meses. Mas não deu certo. Bola pra frente.
Sou muito novo ainda.
É verdade que você não é muito chegado em noitada,
badalação?
Não curto muito balada. Sou mais do dia mesmo. Não gosto de
noitada, gosto de dormir (risos). Não bebo, não fumo. Sou caseiro, tranquilo,
sossegado. Odeio cheiro de cigarro.
Você tem 18 anos, está no começo da sua carreira
profissional e já vive nos holofotes. Como lida com o assédio, pressão e a
fama?
Não caiu minha ficha ainda. Em menos de um ano muita coisa
mudou na minha vida. Veio a Seleção Sub-20, a Seleção e ser titular no São
Paulo. Saio na rua como se fosse um desconhecido, porque nem lembro que sou
jogador. As pessoas vem falar comigo e eu sou muito tímido (risos), mas atendo
todo mundo numa boa. Gosto do carinho e de ser reconhecido pelo que eu faço.
É verdade que você foi muito estudioso e bom aluno na
escola?
Nem tanto assim (risos). Na verdade sempre fui bom aluno.
Levava a escola a sério. Não era “nerd”, de ficar 24 horas estudando, mas era
aplicado, me dedicava. Tudo que eu faço, gosto de fazer bem feito. Não faço
nada pela metade. E isso acaba sendo positivo pra mim.
Com essa disciplina e comprometimento, não sente que está
perdendo parte da sua juventude?
Consigo equilibrar. Perdi minha infância muito cedo. Fui
morar no CT de Cotia e foi um período difícil. É complicado ficar longe dos
pais. A gente sente saudade. E hoje eu voltei a morar com a minha família.
Quando tenho um tempo, saio com meus amigos e procuro aproveitar.
Como foi sua experiência no futebol de base?
Graças a Deus cheguei na base do SPFC, que é uma das
melhores do Brasil. Aproveitei muito o período que eu fiquei em Cotia. Eles se
preocupam com a formação do jogador. Tem professores de reforço no Centro de
Treinamento. Eles levam e pegam na escola.
A maioria dos seus amigos jogava com você na base. Como é
fazer sucesso no profissional e eles continuarem lá?
Futebol é complicado. Queria que todos meus amigos tivessem
aqui comigo. Mas nem todos conseguem. Eu continuo torcendo por eles. Vou lá
visitar, assisto alguns treinos e jogos do campeonato da base.
Você passou por um treinamento para ficar mais forte.
É para dar uma estabilidade maior. Nada exagerado. A ideia é
ficar mais firme para aguentar o tranco dos zagueiros. Mas sem deixar
atrapalhar minha velocidade.
Como é, aos 18 anos, estar na Seleção Brasileira?
Uma responsabilidade grande e um passo enorme na carreira.
Todo jogador sonha em chegar na seleção. Quando estou lá, cantando o hino,
lembro da minha mãe. Ela não entende muito de futebol, mas quando é a Seleção,
é bem patriota (risos).
E o que aconteceu na Copa América?
Foi chato, né? A pior parte do futebol é perder. Mas
acontece. A seleção está em um período de reformulação com jogadores novos: eu,
Neymar o Ganso. Leva um tempo até se adaptar e fechar um grupo bom.
Um dos problemas apontados nos jogadores brasileiros é a
falta de estabilidade emocional. Você concorda?
Ás vezes acontece isso sim. Jogador toma um gol e não está
com o psicológico legal para reagir. Precisa trabalhar isso aí. Ficar calmo e
partir pra cima. Porque futebol é assim: se faz gol, beleza, você é bom. Se não
faz e o time perde, já não presta mais. Então, tem que ter a cabeça boa. E na
Seleção a pressão é ainda maior.
Jogadores brasileiros estão sendo vítimas de racismo
periodicamente. O que pensa disso?
Hoje em dia não tem mais espaço para o racismo. Está mais
que provado que todo mundo é igual, independentemente da cor. Acredito que quem
comete essas ações tem que ser punido. Eu sou feliz com a minha cor. E se um
dia eu sofrer esse ato, vou relevar.
E a história do apelido de Marcelinho (referência ao jogador
Marcelinho Carioca) te incomodou?
Desde os sete anos tinha esse apelido. Era normal. Mas
quando eu comecei a aparecer no profissional, queria ter minha identidade. Usar
o nome de batismo que meus pais me deram. Minha mãe me pediu isso. Comecei a
pensar que eu ia ser famoso com o nome de outra pessoa.
Como é a sua rotina?
Fico bastante aqui no clube. Acordo, venho para o treino,
depois volto para jantar em casa. Às vezes eu saio com os amigos, vou ao
shopping, churrascarias e restaurantes. E quando tenho tempo, visito meus
familiares no bairro onde eu cresci na Zona Sul. E é isso.
2 comentários:
A grande verdade é que essa proposta da Inter de Milão nunca existiu...
Vou aguardar. Porque cansei de ver jogadores falando em juras de amor por um time. E por uns dólares a mais saiu sem o menor constrangimento.
O Lucas é um prodígio. Uma promessa e por enquanto é apenas isso. Se tiver cabeça no lugar vai se tornar um bom jogador.
Craque? Ainda é cedo.
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