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Roberto Pereira de Souza
Proc. Geral da República, Roberto Gurgel
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O Procurador Geral da República, Roberto Gurgel, tem uma importante missão pela frente: ler e
analisar uma representação criminal contra o presidente da CBF, Ricardo
Teixeira, que também preside o Comitê Organizador da Copa-2014. O pedido de investigação foi assinado por Marcos Pereira, dirigente do Partido
Republicano Brasileiro (PRB) e professor de Direito Penal. Se a investigação
for aberta, o processo por corrupção na Fifa que cita João Havelange e Ricardo
Teixeira pode ser enviado ao Brasil, para ajudar nas apurações.
Faz mais de 40 dias
que o pedido foi protocolado com número 004689/11 na PGR, do Distrito Federal.
Gurgel decidirá se as alegações de Marcos Pereira são consistentes e, em caso
positivo, deverá encaminhar a investigação para o Ministério Público do Rio de
Janeiro, sede da CBF e da residência de Teixeira.
Fontes ligadas à PGR argumentam que o caso deve ser
encaminhado ao Rio de Janeiro e os procuradores regionais decidiriam pela
abertura de uma investigação ou pelo arquivamento. “Tudo depende da solidez da
denúncia e das provas juntadas”, explicou um assistente da PGR.
O pior dilema para Teixeira, que vive uma espécie de inferno
astral nesses três anos que restam até a Copa-2014, é a possibilidade de o
Ministério Público Federal pedir à Justiça Suíça documentos que comprovariam o
recebimento de suborno tanto do presidente da CBF quanto de seu ex-sogro e
fonte inspiradora, João Havelange.
Essa documentação que trata de corrupção no futebol mundial
colocou a Fifa nas páginas policiais e gerou um documentário produzido pelo
escritor e jornalista Andrew Jennings, para a rede BBC, de Londres. O material
de Jennings foi republicado no Brasil e a rede Record acabou produzindo uma
série com todas as denúncias contra Ricardo Teixeira e suas empresas.
No ultimo dia 13, o
Jornal Nacional também levou ao ar uma reportagem sobre mais uma investigação
policial contra Teixeira. Trata-se de um pagamento efetuado a uma empresa
recém-formada por serviços prestados ao Governo de Brasília, antes de o
governador José Roberto Arruda ser cassado. O serviço seria o apoio à seleção
brasileia em um amistoso contra Portugal, em 2008. A empresa recebeu R$ 9
milhões e o caso levou policiais de Brasília ao Rio de Janeiro para uma
operação de busca e apreensão na sede da suposta empresa de marketing, a Ailian
to Marketing.
Diante de tudo isso, Marcos Pereira, presidente do PRB, pede
que o MPF investigue Teixeira a partir de informações divulgadas pela imprensa.
A principal denúncia contra o presidente da Confederação
Brasileira de Futebol está sendo julgada pela Justiça da Suíça. Em seu recente
documentário levado ao ar pela BBC, o jornalista e escritor Andrew Jennings menciona textualmente os
nomes de Ricardo Teixeira e de João Havelange como sendo de dois dos réus em
corrupção e suborno em operações da Fifa, na negociação de direitos de
transmissão de jogos e acertos comerciais com patrocinadores de Copas de Mundo.
Segundo Jennings, Ricardo Teixeira e Havelange teriam feito
um acordo com a Justiça Suíça para devolver cerca de US$ 9 milhões, dinheiro
recebido em operações ilegais.
Teixeira, empréstimo de US$ 36
milhões
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Denúncias históricas
Entre as empresas operadas por Teixeira, aparece a Sanud,
com sede no paraíso fiscal Principado de Liechtenstein. Com letras invertidas,
o nome também significa Dunas. Esta empresa aparece na lista de propinas
divulgada pela Justiça da Suíça. A lista de empresas beneficiadas por suborno e
caixa 2 trazem nomes como Beleza, Wando e Sicuretta. Suspeita-se que os
operadores dessas contas bancárias sejam brasileiros, devido à grafia em
Português e Italiano.
A suspeita sobre movimentação financeira da Sanud tem mais
de uma década. O Senado brasileiro rastreou cuidadosamente as operações
bancárias dessa empresa de Ricardo Teixeira no final da década de 90, durante a
CPI do Futebol.
Para trazer dinheiro na forma de empréstimo, a Sanud (ou
Dunas) entrou como sócia da empresa brasileira R.L.J Participações formada
pelos seguintes sócios: Lúcia Havelange Teixeira, com 24,99%; Ricardo Teixeira
(representante legal) aparecia com 25,01% e a Sanud tinha 50,0% das cotas.
As suspeitas sobre os contratos entre a CBF e a Fifa também
são antigas. Entre 98 e 2000, por exemplo, a CBF contraiu empréstimos no
Exterior no valor de US$ 36 milhões para “resolver problemas de caixa”, segundo
explicou Ricardo Teixeira, em depoimento à CPI do Futebol, no Senado.
Os empréstimos foram contraídos junto ao Delta National Bank, criado no Exterior por
banqueiros brasileiros bastante conhecidos. Outros grupos financeiros também
emprestaram dinheiro à CBF, tendo Teixeira como avalista: o Trust Company de
Nova York e Trust Company Grand Cayman, do paraíso fiscal de Ilhas Cayman.
“A CPI pôde fazer uma análise das contas da CBF de 1995 a
2000; dessa investigação resultou a conclusão de que a CBF vem sendo
administrada de forma, no mínimo
negligente”, afirmou o senador Geraldo Althoff, relator da comissão. Ricardo
Teixeira fez de tudo para explicar que sua contabilidade era confiável.
Havelange, citado por corrupção pela BBC
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Para se defender, Teixeira contou como tudo aconteceu:
“A CBF tinha conta no Banco Real e a diretores do banco me
ajudaram com esse empréstimo no Exterior, usando o banco que eles tinham
montado, o Delta”, revelou o cartola em seu depoimento.
O volume 2 da CPI mostra as operações em detalhes. O relator
do documento ficou impressionado com dois fatos envolvendo os empréstimos: 1) a
taxa de juros contra a CBF foi de 53% ao ano, quando o mercado operava com
taxas nunca superiores a 7%/ano; 2) o avalista de todos os empréstimo era o
próprio Ricardo Teixeira.
Em dois anos e meio, a CBF pagou cerca de US$ 11 milhões de
juros de empréstimos (a 53% ao ano) , multas e desvalorização cambial. “Fatos
como esses estão comprometendo seriamente a estrutura operacional da CBF para
os anos seguintes”, escreveu o senador Geraldo Althoff.
Quando pressionado pelos membros da CPI do Futebol, sobre o
volume de empréstimos contraídos no Exterior, Ricardo Teixeira foi bastante
simples: “faço a mesma coisa que o Dr. Havelange fazia quando estava à frente
da Confederação Brasileira de Desportos (CBD), sendo avalista de empréstimos em
nome da entidade”, disse.
Havelange e Teixeira jamais se pronunciaram sobre o processo
na Justiça da Suíça. Se a Procuradoria da República abrir uma investigação
contra Teixeira, a papelada será pedida
judicialmente pelos procuradores brasileiros à corte europeia. "Seria um
procedimento normal, nesse tipo de apuração", explicou um procurador da
República, sob a condição de anonimato.
Um comentário:
O que a foto do Jô Soares tá fazendo no topo?
;)
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