Reprodução: O Globo.com
Graça Magalhães-Ruether
BERLIM - Quando o paulista Breno Vinicius Rodrigues Borges
foi contratado pelo Bayern de Munique há três anos, por 12 milhões de euros,
era apontado como o "futuro melhor zagueiro do mundo". Na disputa
pelo passe do jogador do São Paulo, o time alemão superou Fiorentina, Juventus
e Real Madrid, que também acreditavam no seu grande talento. Três anos depois,
Breno, hoje com 21 anos, está preso em Munique, acusado de ter ateado fogo à
casa onde vivia, no elegante bairro de Grünwald. O zagueiro estaria com problemas
psicológicos, causados pela frustração de três anos na Alemanha sem conseguir
se adaptar nem à sociedade nem ao futebol.
O presidente do Bayern, Uli Hoeness, reagiu furioso à ordem
de prisão, criticando a promotoria pelo exagero de manter na cadeia um jovem
que enfrenta uma crise existencial.
- É absurdo prender um homem jovem que atravessa problemas,
não fala alemão e está sem passaporte! Pôr na cadeia um jovem que sofre de
depressão é como tirar o chão debaixo dos seus pés. Ele pode se arrebentar...
Hoeness teme que Breno fique numa situação ainda pior e
possa até tentar suicídio. O brasileiro está desde a última sexta-feira na
enfermaria da Penitenciária de Stadelheim, sem contato com os criminosos
comuns. Ele recebeu a visita de Rafinha, brasileiro que também joga no Bayern e
é seu vizinho em Grünwald.
Para o técnico Jupp Heynckes, os problemas que Breno
enfrenta desde que foi emprestado ao Nuremberg podem ter sido a gota d'água
para a depressão.
- Ele teve provavelmente problemas pessoais, que não foram
notados antes - disse, lembrando que no dia do incêndio, na segunda-feira da
semana passada, Breno teve problemas em um dos joelhos, que inchou bastante.
Goleiro se suicidou
em 2009
Hoeness ofereceu o pagamento de fiança, mas a promotoria
negou a liberdade condicional. Só dentro de duas semanas, quando as
investigações iniciais forem concluídas e aparecerem novos fatos que inocentem
o brasileiro, a promotoria poderá soltá-lo, mediante uma caução de 1,5 milhão,
quantia que equivale aos danos causados por Breno na casa, inteiramente
destruída.
O caso traz na Alemanha uma lembrança triste do goleiro
Robert Emke, cujos problemas psicológicos o levaram ao suicídio no fim de 2009.
Emke também sofria com os altos e baixos da vida e de uma profissão em que a
frase "errar é humano" não vale, porque erros não são aceitos no
futebol.
- É a vida entre o estrelato e a sensação dos próprios
limites - diz o diretor do Instituto Max Planck de Psiquiatria de Munique,
Florian Holsboer, ao exigir um psicólogo em cada time.
Antes do incêndio, Breno estava em tratamento psiquiátrico.
Segundo o jornal "Berliner Morgenposto", o brasileiro sofria de
depressão, crise conjugal e ideias de suicídio.
O treinador do bem-sucedido Schalke 04, Ralf Rangnick, teve
problemas semelhantes antes de deixar o clube e a carreira de técnico na semana
passada por causa do excesso de pressão no futebol.
Quando chegou à Alemanha em 2008, Breno sonhava seguir o
caminho de outros jogadores brasileiros, que triunfaram no país. O zagueiro, no
entanto, só teve frustração.
Enquanto Lúcio (hoje no Internazionale), Luiz Gustavo e
Rafinha se adaptaram bem no Bayern, Breno não se estabilizou de pé em Munique.
Em três anos, não conseguiu nem aprender a língua.
Com Jürgen Klinsmann como treinador, mal deixou o banco de
reservas, situação que ficou ainda mais difícil quando o holandês Louis van
Gaal assumiu. Breno foi emprestado ao Nuremberg, onde estreou sem sorte,
sofrendo séria lesão no joelho. Desde então, foi operado duas vezes e mal
começava a voltar a treinar quando o joelho direito começou a inchar de novo.
No ano passado, de volta a Munique, foi apontado como o
culpado pelo gol que eliminou o Bayern da Liga dos Campeões na derrota por 3 a
2 para o Internazionale, em maio. Antes disso, Breno já havia desabafado em
entrevista ao jornal "Bild am Sonntag":
- No Brasil, eu tinha menos dinheiro e menos luxo, mas era
feliz. Aqui eu tenho dinheiro, mas me falta todo o resto.
Dores de corpo e alma
Jupp Heynckes, o novo treinador do Bayern, fez tudo para
tornar possível a Breno continuar no time até o fim de seu contrato, em julho
de 2012. Mas o joelho continuou sendo um obstáculo. Nas últimas semanas, Breno soube
que teria que operá-lo pela terceira vez. Poucos dias antes do incêndio,
vizinhos afirmaram à imprensa alemã que o jogador ficava sentado em frente à
sua casa, com a cabeça afundada nos ombros, como quem não consegue mais
sustentar o próprio peso.
De acordo com o jornal "Abendzeitung", problemas
familiares podem ter agravado o quadro. No dia do incêndio, a esposa, Renata, o
filho, Pietro, e os dois enteados do jogador não pernoitaram em casa. Sozinho,
Breno teria se embriagado, como revela a promotoria. O exame revelou um alto
teor de álcool no sangue.
Segundo Werner Leitner, advogado de Breno, é importante que
ele seja libertado o quanto antes, pois estaria correndo risco de vida na
prisão.
- Breno não está nada bem. Ele está abalado, em uma situação
pessoal muito difícil, doente e precisa de ajuda.
Segundo o porta-voz da promotoria, Thomas Koch, o fato de
ele ser jogador do poderoso Bayern não terá importância.
- Breno trabalha para o Bayern mas o seu lugar de trabalho
não tem nada a ver com o caso. Ele será tratado como qualquer outra pessoa.
Até agora, Breno não admitiu que causou o incêndio. Quando o
local já estava em chamas, ele escapou com seus dois cachorros depois de inalar
bastante fumaça. Nos primeiros dias, foi interrogado como vítima e testemunha.
Desde a última sexta-feira, a promotoria está convicta de que ele próprio ateou
fogo.
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