Reprodução: globoesporte.com
Marcelo Prado e Sergio Gandolphi
Atacante sonha reestrear contra o
Corinthians e acha possível ultrapassar Chulapa para se tornar o maior
artilheiro da história tricolor
A fisionomia continua a mesma. Cabelo
curto e batido dos lados. O jeito brincalhão, boa praça, também. Quando a
reportagem do GLOBOESPORTE.COM chega ao CT da Barra Funda para conversar com
Luis Fabiano, ele aparece com largo sorriso. Antes de a câmera ser ligada, há
tempo até para uma brincadeira com a assessoria de imprensa do São Paulo. Só
que, quando a entrevista começa para valer, a situação muda de figura. Assista
ao vídeo ao lado!
Ao longo de 45 minutos de papo,
percebe-se claramente o carrossel de sensações que toma conta do camisa 9 do
Tricolor há 175 dias, desde que sua contratação foi anunciada por € 7,6 milhões
(R$ 17,5 milhões). A alegria da chegada ao aeroporto, a surpresa e a emoção de
ver a festa no Morumbi tomado por 45 mil pessoas em um dia que não havia jogo,
a ansiedade de ter o nome relacionado para enfrentar o Avaí, a tristeza de ser
cortado por causa da fibrose, o desânimo de ter de ser operado para sanar o
problema e o desespero em saber que, após ter um problema de cicatrização,
necessitaria de uma nova cirurgia.
Mas o atacante de 30 anos não desiste.
Mantém o foco no tratamento e está prestes a iniciar a última etapa da
recuperação para sua volta aos gramados, que deverá ocorrer entre a segunda
quinzena de setembro e o começo de outubro. Nesta entrevista, o Fabuloso abriu
o jogo: falou da dura rotina da fisioterapia, de como foi revoltante ouvir os
comentários de que estaria bichado, que sonha reestrear no clássico contra o
Corinthians, no dia 21 de setembro. E mais: que acha possível encerrar sua
carreira como maior artilheiro da história do clube.
- Ultrapassar o Serginho Chulapa não
será uma meta fácil, mas é possível. Seria maravilhoso poder marcar o nome na
história do São Paulo pelos títulos conquistados e por ter me tornado o maior
goleador de todos os tempos. Até porque seria um marca difícil de ser batida -
afirmou o Fabuloso, entre muitas outras coisas. Confira abaixo:
GLOBOESPORTE.COM: Você foi contratado
no dia 11 de março, apresentado 18 dias depois e até agora não estreou. O que
passa pela sua cabeça após quase seis meses?
Luis Fabiano: Não é fácil. Eu não
esperava. A festa na minha apresentação foi um momento histórico, nunca tinha
visto nada parecido no Brasil. Daí para frente, não esperava passar por tantas
dificuldades. Mas acho que são coisas pelas quais eu tinha de passar. Na minha
carreira, nunca havia ficado mais que dois meses machucado. Agora é ter
paciência. Não existe momento certo para machucar. Mas pelo menos tudo isso
está ocorrendo no clube que sempre sonhei voltar e isso, sem dúvida, me dá mais
motivação para superar tudo que está acontecendo. Estar no São Paulo é o que
faz trabalhar ainda mais.
Como está sendo lidar com todo esse
processo?
Esperava jogar contra o Avaí (dia 4 de
maio, pela Copa do Brasil). Em dois dias, fui da alegria de treinar e ser
convocado (pelo técnico do São Paulo) para a tristeza de saber que não jogaria
por causa da fibrose e que teria de operar. Aí, você para, pensa e busca forças
na família e nos amigos. Todo esse período fora tem me ensinado muitas coisas.
Está servindo para eu crescer. Tem sido uma lição de vida.
Fale sobre a sua rotina de
tratamento...
Machucar é difícil por isso. Você
precisa ter muita cabeça para enfrentar tudo o que os fisioterapeutas pedem para
a gente fazer. São muitos exercícios e pior, é muita repetição. Para piorar, é
tudo dentro de um ambiente fechado, onde todo jogador odeia ficar. E você não
tem folga. É sábado, domingo... Teve dia em que cheguei aqui às oito horas da
manhã e fui embora às seis, sete da noite.
Você se assustou com tudo que
aconteceu?
Assustar, não assustou. Mas não
esperava. Sinceramente, como todos, achava que, tirando a fibrose, tudo estaria
resolvido. É claro que, após uma cirurgia, teria de fazer fortalecimento, mas
não esperava outro problema (falta de cicatrização). A cicatriz é grande porque
a fibrose era grande. Além do que, na segunda operação, foi preciso tirar um
músculo, juntar outros dois e costurar. Eu sei de tudo que aconteceu, os
médicos me explicaram.
Na sua outra passagem pelo São Paulo,
você marcava muitos gols, mas tinha um gênio explosivo e até causou alguns
incidentes. Como está fazendo para se controlar agora diante de tantas
adversidades?
Uma coisa não tem nada a ver com a
outra. Os erros que cometi naquela passagem foram dentro de campo. Fora, sou
completamente diferente. Em 2003, tinha 21 anos, não pensava em nada antes de
fazer. Agora já rodei bastante, sou pai e você aprende. Passa a pensar antes de
fazer. O momento agora é completamente diferente.
Em algum momento perdeu a cabeça?
Posso te dizer que em vários momentos
fiquei bravo, mal-humorado, reclamei muito. Mas durava um minuto (risos). Essa
rotina é desgastante, mas é necessária, eu preciso passar por isso para voltar.
Nos momentos em que ficava deprimido, várias pessoas apareciam para me dar
força e superar.
Em todo esse período como tem sido o
contato com os demais jogadores?
Posso dizer que, desde o meu primeiro
dia aqui, fui muito bem recebido por todos. Eles passam pelo Reffis,
cumprimentam, brincam. Isso é importante, dá muita força. Até porque também
existe a expectativa deles de quando poderei estar em campo para trabalhar no
dia a dia e ajudá-los em campo.
Você terá custado ao São Paulo R$ 17,5
milhões ao final de quatro anos. Deste valor, 40% já foi quitado e até agora
você não entrou em campo? De alguma maneira você se sente em débito por isso?
Sinceramente, não! Se estou aqui, é
porque tive uma grande parcela de contribuição. Todo mundo está vendo tudo que
estou fazendo para jogar. Não me sinto pressionado por ninguém da diretoria e
nem do departamento médico. Todos me dão apoio integral. Não tenho nenhuma
dúvida. O futebol é assim, são coisas que você não espera, mas que precisa
enfrentar. Esperava ser apresentado e jogar após três ou quatro semanas. Esse
era o prazo inicial.
Como está sendo viver como torcedor?
Não é fácil. É um sofrimento constante
ficar fora, ainda mais eu sou que sou um cara que tinha de estar lá dentro para
ajudar. Quando perde, sou como o torcedor, fico p.. da vida, frustrado.
Você veio para trabalhar com o
Carpegiani e, do lado de fora, o viu ser demitido. Como foi esse processo?
É difícil um treinador perder duas ou
três partidas e seguir no comando. Vários já caíram. Lamento muito porque tinha
vontade de jogar com o Carpegiani. Mas são coisas do futebol, perder clássico
(referindo-se a derrota de 5 a 0 para o Corinthians) complica demais, gera
desconfiança. Está sendo assim com o Tite no Corinthians. No futebol
brasileiro, isso é normal.
Recentemente, o presidente do
Corinthians, Andrés Sanches, disse que o Adriano (atacante que também se
recupera de lesão) voltará antes que você? Como encara isso?
Eu não ouvi da boca dele, mas escutei
os comentários. Se isso vai acontecer, só Deus sabe. É a opinião dele.
Durante os incidentes enfrentados
durante a recuperação, certamente você deve ter escutado comentários de pessoas
que questionaram o seu estado físico, dizendo que você teria vindo bichado para
o São Paulo.
Eu tenho certeza de que vou voltar a
jogar. Não vim bichado e muita gente vai engolir o que falou. É lamentável
alguém dizer isso porque não estão falando só de um jogador e sim, de um ser
humano. Joguei três anos sem férias por causa da Seleção Brasileira, o Sevilla
(ESP) não queria me vender porque acreditava que eu voltaria antes do fim da
temporada passada, em maio. O que aconteceu pode acontecer com qualquer um no
futebol. Mas não adianta ficar falando, na hora certa eu vou dar a resposta em
campo.
Na sua primeira passagem pelo São
Paulo, você teve o Kaká como seu grande parceiro. Hoje, o Lucas é a grande
revelação e percebe-se que existe um entrosamento muito grande com você. É
possível comparar os dois?
No talento, sem dúvida. O Lucas chama
a atenção, é diferenciado e, sem dúvida nenhuma, vai se tornar um grande
jogador. Mas ele o Kaká têm estilos completamente diferentes. O Kaká é mais
alto, mais forte e atua de maneira mais centralizada. Os dois são rápidos, mas
o Lucas atua mais pelas pontas.
Quando você volta?
Eu só posso dizer que está perto. Essa
é a confiança que tenho. Eu pergunto todos os dias para os fisioterapeutas
quando vou voltar. Por mim, já estaria no campo, afinal não sou médico e não
tenho mais dor. Mas sei que preciso fazer fortalecimento e equilibrar a
musculatura. Ninguém mais quer que esse dia chegue do que eu.
A sua volta está próxima, isso é fato.
E claro, surge a pergunta: quem vai sair do time?
Isso é com o treinador. Mas eu não
quero jogar por nome, quero jogar porque tenho condições. Estou aqui para
tentar fazer o meu melhor e mostrar que posso estar em campo. E, se for
preciso, estou disposto a lutar pelo meu lugar. Aqui é um grupo e o São Paulo
precisa de todos.
O torcedor do São Paulo olha para a
tabela, olha para o dia 21 de setembro e vê o clássico contra o Corinthians no
Morumbi. Dá para sonhar com o Luis Fabiano em campo?
Eu também vejo a tabela e olho para o
dia 21 de setembro. Sonhar não custa nada, não paga nada. Sei que a realidade é
diferente, mas eu sonho poder jogar esse jogo. Seria especial porque jogar e
ganhar esse clássico tem um gostinho a mais.
Quais são os seus planos no São Paulo?
É claro que o primeiro é jogar e isso
estou bem perto. Depois, quero brigar pelo Campeonato Brasileiro, o que vai nos
levar para a Libertadores no ano que vem, que é um grande objetivo que tenho. É
por isso que voltei e é por isso que luto todos os dias. O que o torcedor fez
na minha festa foi especial, não esperava nem a recepção que aconteceu no
aeroporto. Com tudo isso, sei que a minha responsabilidade aumenta. Todos
querem ver o Luis Fabiano do passado. Hoje, sou outro jogador, mas estou pronto
para ajudar.
Hoje você é o 12º maior artilheiro da
história do São Paulo, com 118 gols (em 160 jogos). Para alcançar o Serginho
Chulapa, que é o primeiro e tem 242, faltam 124. Acha isso possível?
É uma meta complicada, mas é possível.
Em três anos e pouco, terei de marcar mais ou menos 40 gols por temporada. No
meu melhor ano no São Paulo, fiz 45. Não é fácil, mas é algo motivante. Pelo
carinho que tenho pelo clube, seria legal marcar o nome na história por títulos
e por ser o maior artilheiro da história. E acho que, se isso ocorrer, ninguém
vai me alcançar. Até porque, quem surge hoje e destaca, logo vai para a Europa.
Ficaria para o resto da vida.
Você pensa na Copa de 2014?
Pensar, eu penso. Enquanto eu jogar,
acho que tenho condições de estar na Seleção. Seleção é o tipo da coisa que
nunca pode sair da sua cabeça. Mas ainda tenho muitas etapas para percorrer
antes de pensar nisso.
Passado mais de um ano, você já
conseguiu entender o que aconteceu na Copa do Mundo de 2010?
Não entendo, não aceito e ainda dói demais.
Não tem explicação. Ninguém consegue entender como fizemos um brilhante
primeiro tempo contra a Holanda e uma segunda etapa horrível. Em Copa do Mundo
você não pode errar. Quando isso acontece, ainda mais diante de um adversário
como a Holanda, você perde (o Brasil perdeu por 2 a 1 e foi eliminado nas
quartas de final). Depois, com um homem a menos (Felipe Mello foi expulso) e
todo o nervosismo, ficou difícil reagir. E o Dunga acabou crucificado, o que
achei um absurdo.
Como viu a seleção na Copa América?
Como torcedor, fiquei triste de não
ver o time na final. Futebol é isso aí. Todos pediram a renovação, ela foi
feita e, como não ganhou, não serve mais.
O que você pode falar do Neymar, que
hoje é o melhor jogador do futebol brasileiro?
É uma das maiores revelações que já
surgiram no Brasil. Ele não está apenas jogando bem, o moleque é bom mesmo.
Espero poder enfrentá-lo na última rodada do Campeonato Brasileiro (jogo
marcado para o Morumbi no dia 4 de dezembro).
O futebol brasileiro vive um grande
momento. Grandes craques estão voltando e o resultado é que o Campeonato
Brasileiro está sendo muito disputado. Como vê isso?
Estou achando muito legal. Gosto de
enfrentar grandes jogadores, isso valoriza o campeonato. Acho que voltei no
momento perfeito. O campeonato tá legal, disputado, logo estarei pronto para
enfrentar Neymar, Ronaldinho e outros. Hoje, todo mundo lá fora observa o
Campeonato Brasileiro de uma maneira totalmente diferente.
Para fechar, deixe uma mensagem para o
torcedor são-paulino.
Quero agradecer o apoio que estou
recebendo desde que cheguei. Onde vou, só escuto palavras de incentivo. Estou
lutando muito para voltar e logo logo o Luis Fabiano estará de volta para dar
muitas alegrias ao torcedor do São Paulo.









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