Reprodução: Blog do Perrone
Marco Aurélio Cunha: “Não era mais ouvido no São Paulo, por
isso saí”
Marco Aurélio Cunha assinou nesta quarta-feira sua rescisão
contratual (sem multa) com o São Paulo. Confira a entrevista com o
ex-superintendente de futebol do clube, que alterna declarações escancaradas e
sutilezas escondidas nas entrelinhas.
O senhor vai formalizar sua demissão hoje?
Não. O pedido informal foi feito em dezembro. Assinei a
rescisão ontem. É bom deixar claro que não recebi nenhuma multa, indenização.
Saio sem receber nenhum valor do São Paulo. E não existe possibilidade de eu
vir a cobrar o clube no futuro. Não fiz isso há 20 anos quando fui demitido
porque o grupo do Juvenal Juvêncio perdeu a eleição, não farei agora.
Quais motivos o levaram a pedir demissão?
Senti que meu grau de influência estava sendo pequeno. A
minha influência diminuiu a ponto de eu não ser mais ouvido. Na rua eu sou
cobrado como se eu fosse o São Paulo, tenho a cara do clube, mas lá dentro eu
não tinha mais aquele poder de persuasão, minhas opiniões não eram levadas mais
em conta. Então, não era justo eu continuar a ser cobrado assim.
Quais opiniões não foram levadas em conta?
São assuntos internos, não vou expor as feridas. Mas as
vitórias levam a alguns abusos, fazem as pessoas saírem da realidade, eu
tentava corrigir isso. Aí eu era a pessoa desagradável.
Tem a ver com as saídas do Muricy Ramalho e do Ricardo
Gomes?
Eu achava que o Muricy poderia ter saído de outra forma, com
uma porta aberta para ele voltar no futuro. Mas isso é difícil no futebol, não
entenderam assim. Ficou claro que eu não era mais ouvido na saída do Ricardo.
Argumentei que ele tinha bons números, mas resolveram mudar tudo sem
planejamento, apostar na base sem nenhum cuidado. Não me consultaram, não me
ouviram quando falei dos riscos.
Como conselheiro, se o Juvenal for candidato, vai votar
nele?
Como amigo, gostaria que ele não fosse candidato, porque sua
administração foi brilhante e ele só vai ter desgaste. Não sou jurista para
saber se é legal ou não a candidatura dele. Vou ouvir as pessoas. Não posso
dizer se votaria nele ou na oposição, pois não pensei no meu voto ainda.
Pode ser candidato à presidência?
Agora não.
A demissão tem a ver com a carta distribuída pelo
conselheiro Edson Lapolla afirmando não ser ético um conselheiro ser remunerado
como funcionário ainda mais para quem é da Comissão de Ética da Câmara
Municipal, como o senhor?
Zero. Você acha que vou ligar para o que o Lapolla fala? Saí
porque achava injusto ser cobrado nas ruas como se eu fosse o São Paulo sem ter
poder para mudar o que eu achava errado. Se não me ouviam, eu não era mais
útil, não fazia mais sentido ficar lá. Abri mão da visibilidade e de um salário
que era economicamente importante.
Poderia enrolar o São Paulo, ficar lá mais uns três anos recebendo
salário, depois ser demitido e pegar uma indenização. Saí e mostrei que quando
sinalizei no ano passado que pediria demissão não estava fazendo ameaçazinhas,
como alguns no clube disseram. Mais gente deveria fazer o que eu fiz: ir
embora.
Quem?
Tá cheio de gente que vive lá no São Paulo apenas por conta
do cargo, só para ter o cargo, cargo não remunerado. Deveriam sair também. Ao
me recusar a continuar ganhando sem ser ouvido, mostrei que não sou um
são-paulino que quer tirar proveito do clube. Outros deveriam mostrar isso
também.
O senhor continuará trabalhando no futebol?
De alguma forma vou. Tenho muitos amigos que me pedem ajuda,
tem o pessoal de Santa Catarina que sempre me procura. Vou continuar porque não
sou como uns que estão aí, que são da iniciativa privada e caíram no futebol.
Eu sempre fui do futebol.
Um comentário:
Graaande MAC!
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