A mística em torno do São Paulo ainda se justifica?

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Ricardo Araújo

Até pouco tempo atrás visto como clube de exceção no Brasil, hoje parece mais um entre os mortais.

Alguns doutores da imprensa esportiva estão pasmos, mas afinal, o que aconteceu com o todo poderoso SPFC ? Perdeu o rumo ?

O SPFC conseguiu se colocar na vanguarda do futebol brasileiro por algumas razões. A principal delas, foi ter alcançado uma estabilidade política tal que permitiu a continuidade de boas práticas de gestão.

Várias diretorias se sucederam, mas a filosofia de gestão permaneceu a mesma. Isso foi fundamental para que um eficiente planejamento de longo prazo fosse levado a bom termo, sem mudanças radicais. O clube investiu na base, alimentou suas receitas através da venda de várias revelações, e além disso, durante muitos anos foi mestre na escolha dos atletas e na formação dos elencos. Todos esse fatores juntos e misturados, resultaram em inúmeros títulos e prestígio. O clube, com justiça, foi alçado ao posto de clube “top” do Brasil pela imprensa especializada. E porque isso mudou ? Bem, mudou porque em princípio tudo muda. Nada é eterno. A história do planeta nos ensina. Vivemos de ciclos. De civilizações, de eras climáticas, corporações, práticas sociais, e claro, de entidades esportivas. E nada dura por um tempo significativo se não houver determinação, esforço contínuo, e humildade. E a falta desses predicados foram os maiores pecados do SPFC. Acreditar que tudo estava feito e que funcionaria por osmose. Uma bola de neve que aumenta pela força da gravidade. Uma simples receita de bolo.

Faltou humildade e sobrou soberba, principalmente para não perceber os desvios de rumo. A política do clube desandou. Seu presidente, a exemplo de presidentes de clubinhos de várzea, busca se perpetuar no poder através de firulas jurídicas. Quem diria.

As revelações secaram (além do mercado externo ter perdido o fôlego) e deixaram de engordar o caixa. O clube parece ter compreendido que revelar craques não é uma ciência exata. E sem esses recursos, escassearam as grandes contratações, e as contas passaram a não fechar. E, para piorar, perderam tambem a mão na escolha do elenco, ao contratarem mal dentro e fora de campo.

Em 2010, ao invés de se concentrarem no resgate de certos conceitos, preferiram gastar energias numa batalha inglória, e pouco inteligente, para aprovar o Morumbi como sede paulista da Copa. Acabaram fracassando em todas as frentes.

Talvez a inversão da curva, agora bem clara, sirva para que o clube perceba que o sucesso é fruto de um trabalho contínuo, árduo e diário. E que não bastam apenas planejamento e estrutura para ter de volta o sucesso perdido. É preciso muita transpiração, inspiração, e trancar a arrogância na gaveta.

Certa vez, Marco Aurélio, imperador romano vivendo o auge do poder do império, disse que o poder de Roma seria eterno, pois que não haveriam forças na Terra capaz de impedi-lo.

Mal sabia ele que vários de seus sucessores passariam a maior parte de suas vidas entre orgias e banquetes.