Reprodução: Coluna do Juca Kfouri, da Folha
Dirigente acusa Ricardo Teixeira e Marcelo Campos Pinto por
racha
"Só me resta lutar até o fim. se cair, cair de pé. quem sabe
se não lanço agora a liga?"
Na tarde da última quarta- -feira, recebi em meu escritório,
no andar de cima de minha casa, o presidente do Clube dos 13, Fábio Koff.
Havia alguns anos que não nos falávamos, fruto de
divergências sobre os rumos da entidade que ele dirige. E de críticas ácidas,
respondidas por ele no mesmo tom.
Considero que o reencontro de anteontem foi fruto da
autocrítica de quem quer retomar um caminho, mesmo que pareça tarde demais.
Na despedida, e fiz questão de ir com ele até o carro, ouvi:
"Estou velho para poder ter tempo de fazer novas reconciliações. Tenho
certeza de que, com você, não será preciso mais nenhuma".
Abaixo, seu depoimento, o mais fiel possível porque não foi
gravado, mas submetido a ele antes da publicação.
"Não vim para me justificar. Até porque as coisas que
não fiz não as fiz ou porque não soube, não tive competência ou força para
fazer. E algumas vezes fraquejei.
Errei ao aceitar ser chefe da delegação da seleção
brasileira na Copa da França. E fui muito criticado por isso, com razão de quem
criticou.
Não queria ir, pensei em dizer não ao convite, mas até minha
mulher argumentou que eu vivia criticando e que não poderia recusar ao receber
aquela responsabilidade.
Fui, convivi pouco com o Ricardo [Teixeira, presidente da
CBF], ele lá, eu cá, mas não posso negar que ele é tão poderoso como abjeto.
Fui traído muitas vezes ao longo desses anos, embaixo do
pano, na calada da noite.
O Marcelo [Campos Pinto, principal executivo da Globo
Esportes] e a CBF implodiram a FBA [empresa que geria a Série B] e fizeram um
contrato de adesão da Série B.
Os clubes fecharam por R$ 30 milhões até 2016, quando
poderemos chegar a R$ 1 bilhão por ano. Isso é inaceitável, os clubes menores
vão morrer. Vão matar o futebol.
Fraquejei ao não fazer a Liga dos Clubes, como era nosso
projeto de vida. Não me senti forte, respaldado o suficiente. O temor em
relação a retaliações da CBF é grande, a ponto de ela ter extinguido o conselho
técnico dos clubes e ninguém reclamar.
Esta ruptura do Clube dos 13 é coisa do Ricardo e do
Marcelo. Eles são vizinhos de sítio e tramam tudo nos churrascos que fazem.
O Andres Sanchez veio até minha sala, encheu-me de elogios e
avisou que o Corinthians ia sair. Eu até disse que entendia, que admitia que
quem entra pode sair, mas que queria saber o motivo. Ele disse que, quando
alguém pega um rumo, tem de ir até o fim. "Mas que rumo?", perguntei.
"O rumo, o rumo", respondeu.
Convidei-o para a reunião. Ele disse que não, que era
assunto para o Rosenberg [Luis Paulo Rosenberg, diretor de marketing do
Corinthians].
Ele foi embora, mas tem dívida lá para pagar. Se pagar,
ficará claro, para o Cade [Conselho Administrativo de Defesa Econômica],
inclusive, quem pagou.
Não falou nada em lisura e está cansado de saber que ganho,
líquido, coisa de R$ 52 mil, mais dinheiro do que vi em toda minha vida de
juiz, é verdade, mas salário a que faço jus e que, por iniciativa minha, é
menor do que deveria ser pelo que fora decidido em Assembleia Geral.
Se prevalecesse a porcentagem sobre o contrato com a TV,
seria muitíssimo maior, poderia chegar a R$ 5 milhões por ano, o que
evidentemente seria um exagero.
Quanto a termos avisado os concorrentes sobre o ágio
concedido à Globo, qual é o problema? Falamos com todos mesmo, com a Globo
inclusive, que reagiu muito bem, em ligação que fiz à Márcia Cintra [braço
direito de Marcelo Campos Pinto].
Juro que não queria mais uma reeleição. Mas, quando vi a
armação para eleger o Kléber Leite, sem nenhuma conversa comigo, até meus
filhos e minha mulher, que não queriam mais que eu ficasse, acharam que não,
que eu tinha de ir para a luta.
E eu disse com todas as letras para o Marcelo que aquilo era
coisa dele e do Ricardo. Ele desconversou, perguntou como estava a saúde de
minha mulher, aquela coisa melíflua que ele faz sempre que é pego em flagrante.
E eles compraram votos, empréstimo para um, adiantamento
para outro, mas não passaram de oito votos porque nós também trabalhamos sem
descanso.
Antes, tinham nos oferecido pegar a segunda divisão para
administrar, mas a proposta era tão iníqua que eu me revoltei e denunciei, o
que deixou o Marcelo muito irritado. Ele não está acostumado a ser contrariado.
A gota d'água definitiva foi o contrato que o Palmeiras quis
fazer no uniforme do Felipão, e a CBF disse que não podia porque era direito de
comercialização dela, por causa de um artigo no regulamento das competições
que, evidentemente, foi escrito pelo Marcelo, como eu disse para ele, por
conhecer o estilo de escrita dele. E ele, constrangido, negou.
Notifiquei judicialmente a CBF. O Ricardo ficou uma fera.
Soube que falou palavrão, perguntou quem tinha feito a "cagada", ao
mesmo tempo em que não se conformava porque, em vez de falar com ele, eu o
havia notificado.
Ele resolveu que não falaria mais com o Clube dos 13, que só
receberia clubes por intermédio das federações estaduais e que o Clube dos 13
não tinha existência legal porque não está no sistema esportivo nacional.
Na hora de pensar no contrato dos direitos do Brasileiro,
fui ao Cade tratar do direito de preferência da Globo, que inviabilizava
qualquer concorrência. Foi a vez de o Marcelo não me perdoar.
Azar dele. Montamos uma comissão de negociação em que fiz
questão de dividir com dois eleitores que votaram em mim e dois que não
votaram. Dei carta branca ao Ataíde Gil Guerreiro [diretor-executivo do C13],
empresário vitorioso, competente e independente. O resultado do trabalho é
precioso.
Só me resta lutar até o fim. Se cair, cair de pé. Quem sabe
se não lanço agora a Liga?
Saio de sua casa honrado por nosso reencontro, disposto a
ouvir as críticas que merecer e a lutar para, quem sabe, ajudar a evitar também
a roubalheira que querem fazer em torno da Copa.
Aliás, e o Orlando Silva Jr.? Que decepção! Mas confio na
Dilma. Ela não permitirá a farra que querem fazer.
Enfim, lamento ter perdido um companheiro como o Belluzzo
[Luiz Gonzaga Belluzzo, ex-presidente do Palmeiras], um homem de bem, bem
preparado, que fez um trabalho para refinanciar as dívidas dos clubes exemplar,
estabelecendo teto para se gastar com futebol e escalonando o pagamento da
dívida de maneira transparente, muito melhor que essa Timemania, que é uma
bobagem.
E lamento que o Juvenal [Juvêncio, presidente do São Paulo]
tenha se desgastado com os demais dirigentes do Clube dos 13, porque ele era o
meu sucessor natural.
Minha vida foi toda muito boa, não posso me queixar e não me
arrependo de nada, a não ser de poucas coisas no futebol que faria diferente.
Cheguei ao C13 com um contrato de R$ 10,6 milhões, feito pela CBF. Nada no
mundo se valorizou tanto como nossos direitos de transmissão.
Não sou homem de desistir e, com 80 anos, dou-me o direito
de estar meio rabugento. Vamos ver como vou fazê-los engolir a rabugice."
Executivo e cartola falam em acionar a Justiça
Reprodução: Folha.com
Ao tomarem conhecimento do depoimento de Fábio Koff a Juca
Kfouri, Ricardo Teixeira, presidente da CBF, e Marcelo Campos Pinto, executivo
da Globo, disseram que o fórum mais adequado para responder ou comentar as
acusações é a Justiça.
A resposta de Ricardo Teixeira foi encaminhada à reportagem
da Folha por intermédio da assessoria de imprensa da confederação.
Já Campos Pinto, apesar de inicialmente ter se limitado a
também informar ontem à tarde que sua resposta aconteceria somente por meio das
vias legais, acabou por tecer alguns comentários a respeito do presidente do
Clube dos 13, Fábio Koff.
"Responderei por intermédio da Justiça as inverdades
que ele [Fábio Koff] me atribui e os ataques à minha honra", afirmou o
executivo.
"Somente posso atribuir o seu comportamento [de Fábio
Koff] à atitude de uma pessoa de idade avançada, que nos últimos tempos vem
dando demonstrações públicas de um total desequilíbrio emocional",
complementou Campos Pinto ontem.
2 comentários:
Cara posso me arepender, mas hoje sou JJ e Koff até debaixo d`agua.
Da-lhe, Juca!
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